segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A dor da separação


Por que é tão difícil e dolorosa uma separação afetiva?!

Venho me debruçando sobre o tema, não como pesquisadora,mas como uma mulher quase aos 30 anos, experimentando uma separação.

Como dói a dor de um luto enquanto vivos. Se alguém morre, nada está ao nosso alcance, a não ser nossos "religares" e nossos encontros espirituais, ainda que não para todos.  Mas como fazer morrer alguém que ainda vive em você, e pior, vive melhor ainda longe de você!? 

Como é ter de arrancar aos berros, aos choros, a força e a violência um lugar em que morava sonhos, fantasias e desejos? Como é ter que se livrar de todas os seu lances, suas flechas, sobretudo, a ponte que você mesmo construiu até o outro em um abismo de sentimentos? Como é ter que encarar seu ego agora, rejeitado, agora sem saída, agora e só por agora, em uma tristeza quase convulsiva?

Sabemos que a dor passa. Sabemos que existem desencontros. Acreditamos ainda que não somos tão donos da vida, e por sorte ou por azar, a vida é que nos tem, e nesse caso, nada é acaso. Pois bem, ainda sim, uma dúvida: Por que as relações acabam e porque dói tanto?

Antes de amar, surge a paixão. A paixão é projetiva. Lançamos nós mesmos no outro. Amamos no outro, aquilo que nos falta, aquilo que nos tem, aquilo que nos afeta. É um giorgio de passarinho bem pertinho do ego, que fica lhe dizendo a toda hora que você é amado, aceito e querido. Amar é diferente. Passamos então a outro estágio. Aqui as coisas podem mudar. Já não tem mais criações, projeções, idealizações. O amor me parece mais consistente, mais algo próximo do divino em cada um de nós, é uma entrega menos idealizada e inconsequente, ao contrário, amar é de fato, consequência incondicional.

Acontece porém, que seres humanos tais como somos, ainda careçam dessa centelha divina do saber amar incondicionalmente, do saber,antes de mais nada, se entregar. "O que eu faço para ter segurança na relação? O que eu necessito em uma relação? Como fazer o outro gostar de mim"? Perguntas de ego, perguntas que estão carregadas nos consultórios.Perguntas de seres humanos. Grande bobagem! Querer segurança, gera mais insegurança, afinal, será que temos mesmo segurança na vida? Oras, o que você precisa, me parece que é ser menos controlador com o outro, e talvez, menos narcísico. Será que antes, meu caro, você não deva se perguntar primeiro se você gosta de você mesmo, antes que a dúvida sua, passe a ser a do outro também?

Parafraseando a Dr. Clarissa Pinkola Estés, no querido livro: Mulheres que Correm com os Lobos, descobri que muitas pessoas talvez, e aqui, incluo, sobretudo os homens, não saibam amar a natureza primitiva da mulher, não insistem em voltar para tentar entender  não se deixando dissuadir. Quem não é atraído por novas idéias, não conseguirá passar do marco de estrada junto ao qual talvez, alguém do outro lado está descansando agora.





terça-feira, 21 de junho de 2011

Olhem o que achei....VALE À PENA!!!!

 Entrevista: Carlos Bernardi, Psicólogo clínico jungiano, fundador do grupo Rubedo  [www.rubedo.psc.br] 
FONTE: CRP-RJ – DEZEMBRO DE 2006 

Como funciona a terapia junguiana? 
A Análise junguiana está dentro da corrente psicanalítica, ou seja, trabalha 
com o conceito de inconsciente.  Freud é o iniciador desse pensamento, 
obviamente, pegando idéias que já estão na cultura, na filosofia de Nietzsche, 
por exemplo. A partir de 1906, Jung [Carl Gustav Jung (1875-1961)] se juntou a 
Freud, foi até definido por Freud — uma atitude até indelicada com os outros 
estudantes e por outros companheiros — como príncipe herdeiro.  
A psicologia junguiana compartilha com a psicanálise vários pontos: a 
questão do recalque, do inconsciente, com a questão da formação dos 
sintomas. E a própria forma de trabalhar vai ser, em parte, parecida com a 
psicanálise, na medida em que nós vamos, reabilitar através de várias práticas, 
o surgimento do discurso da inconsciência, do discurso inconsciente. Então, 
até aí, a princípio, são técnicas muito parecidas, mas haverá uma diferença 
básica entre essas duas práticas, que é justamente a conceituação de Jung do 
“inconsciente coletivo”. A psicanálise não tem esse conceito.  
Uma coisa que Jung chama atenção é que é impossível se ter uma única 
visão do inconsciente. Jung é bastante  humilde nesse sentido, é bastante 
aberto. E cada linha, cada forma vai perceber um aspecto do psiquismo que a 
outra não conseguiu perceber. Daí a  humildade de todos nós: isso vai 
acontecer muito com a linha junguiana. A princípio  nós estudamos todos os 
autores. Estudamos Freud, tem junguianos que trabalham uma vertente 
próxima de Lacan, ou de Reich, outros fazem um trabalho próximo da Gestalt... 
A psicologia junguiana tem essa disponibilidade para poder dialogar com o 
outro, justamente porque, para Jung, cada autor vai  ver no psiquismo do seu 
paciente o que outros não conseguem ver.  
Então, a psicanálise não tem esse conceito de inconsciente coletivo, que é 
uma hipótese. Acho que a psicologia jungiana (embora muitas pessoas que 
gostam de Jung venham de outras áreas, muitas vezes das artes, de escolas 
religiosas) é uma psicologia científica que quer pura e simplesmente testar 
hipóteses de trabalhos. O inconsciente  coletivo não é um objeto de fé, os 
arquétipos não são para serem acreditados, são para serem testados como 
hipóteses de um trabalho científico. Essa hipótese vai fazer uma diferença 
muito grande na parte do trabalho clínico.  
Voltando, essa hipótese vai fazer muita diferença no trabalho clínico. 
Enquanto para Freud o inconsciente (que vai ser recalcado, trabalhado) vai ser 
algo que passou pela consciência do sujeito, ou pelo menos, passou pela parte 
inconsciente do ego — o inconsciente freudiano seria “desejos mais cegos” que 
vão ser adaptados pelo superego, pelo ego —, para Jung não, para Jung o 
psiquismo é um grande paradoxo, porque ao mesmo tempo em que é algo 
caótico, é também algo que tem um potencial de organização muito grande. 
À medida que o inconsciente tem essas estruturas chamadas arquétipos, 
que fazem parte do inconsciente coletivo, muitas vezes o que estou 
vivenciando através do inconsciente não foi algo que foi recalcado, mas algo que nunca foi vivido. Então, o psiquismo, para Jung, tem um movimento em 
direção a uma totalidade. Enquanto a consciência, o ego, vai ser sempre uma 
parcialidade. Então, tudo aquilo que falta, que está faltando na parcialidade que 
eu sou, vai ser expresso por esse inconsciente. Todos esses potenciais 
encarnados pelos arquétipos, vão se manifestar.  
Nós não trabalhamos apenas em cima do recalcado. Trabalhamos, 
também, em cima dos potenciais, desse movimento psíquico de cada um de 
nós. É isso que Jung vai chamar de “processo de individuação”. É o processo 
de você dizer sim ao discurso do outro e desenvolver todas as potencialidades 
que nos atravessam. A forma que Jung tem de pensar esse inconsciente 
coletivo é bastante objetiva — tanto  é que ele vai chamá-lo, também, de 
“psique objetiva”. E muitas vezes ele vai metaforizar essas estruturas como os 
deuses cultuados na antiguidade: são forças, são potências, não são meras 
estruturas mentais, elas se expressam através de vivências extremamente 
mobilizadoras da consciência, uma experiência muito próxima da experiência 
religiosa. Mas vou insistir. Nós estamos dentro do discurso científico. Jung 
estuda muito a religião, mas interessado nos seus efeitos psíquicos e não 
como objeto de crença, de afirmação, de  realidade. “Deus existe? Isso aqui 
acontece mesmo? Discos voadores existem?”. Jung não está interessado em 
obter resposta par a essas questões, ele quer saber por que o psiquismo 
humano produz, em determinadas épocas,  por exemplo, a crença nos discos 
voadores. Se existem ou não, isso não faz parte da psicologia. A psicologia vai 
dar conta do significado psicológico, simbólico dessas expressões. Então, essa 
é uma diferença muito grande do trabalho psicanalítico.  
A linha junguiana vai variar bastante pelo fato de reconhecer que nenhuma 
linha é capaz de dar conta do psiquismo. Essa variedade encontra-se na 
própria prática jungiana: há terapeutas jungianos que trabalham puramente no 
plano verbal, outros que trabalham com  o corpo, outros trabalham com 
desenhos, trabalham com barro, modelagem, expressão corporal, há jungianos 
que trabalham com dança.  
Existe uma técnica jungiana muito interessante chamada “caixa de areia”, 
que é uma estante cheia de brinquedos, com uma base cheia de areia, pra que 
você pegue um brinquedo e expresse uma  imagem psíquica nele. E o efeito 
terapêutico é muito interessante porque você vê a cena: o brinquedo é 
tridimensional, então você realmente  vê a cena — o impacto emocional é 
bastante grande.  
Então, os junguianos vão variar muito na sua preferência a respeito de qual 
método vai ser o mais utilizado.  Mas, no fundo, o nosso trabalho é pegar o que 
está sendo dito, o que está sendo expresso através dos sonhos, através do 
discurso do paciente, e fazer algum trabalho de entendimento psicológico 
desse discurso, fazer um trabalho interpretativo.  
A terapia junguiana trabalha com terapia de grupo? 
Há jungianos que trabalham com terapia de grupo. É necessário adaptar o 
método. Há terapias jungianas de casal, terapia de família. E Jung muito cedo 
já falava que uma família estava  conectada fisicamente. Uma idéia que 
conduziu depois à teoria sistêmica, de atendimento familiar. Ele já falava sobre 
isso em 1906. Então, mesmo quando eu atendo individualmente uma pessoa, 
eu presto muita atenção na dinâmica familiar dela. Porque ali tem coisas que são expressas pelo filho,  pela filha, pela esposa, pelo marido, (e até pelo 
cachorro); e as pessoas podem absorver muito desse ambiente familiar, das 
coisas que não são ditas, provavelmente. O objetivo de tudo é fazer com que a 
consciência conheça os conteúdos do inconsciente. Tanto os conteúdos que 
foram recalcados, quanto os conteúdos que estão surgindo como potenciais de 
desenvolvimento da pessoa. 

O que você considera um comportamento ético para o terapeuta 
junguiano? 
A questão ética é fundamental dentro  do encontro analítico porque o 
trabalho ele exige uma vivência por parte do paciente chamada “transferência”. 
A psicanálise trabalha com a idéia de  transferência também, só que há uma 
diferença: na transferência junguiana, além do que Freud descreveu, existe 
uma transferência científica, estruturas arquetípicas, das quais Freud não falou. 
Mas ser junguiano não é ser anti-freudiano, é acrescentar outras coisas à visão 
freudiana.  
Mas aquela experiência transferencial deixa a pessoa muito frágil diante do 
analista. Por isso o analista dever ter um respeito ético enorme pelo paciente. A 
transferência vai acontecer, mas eu não vou explorá-la — o que vai acontecer, 
por exemplo, entre um fiel e um padre, um fiel e um pastor.  
Todo relacionamento em que há uma hierarquia entre duas pessoas é uma 
relação sujeita à transferência. Você com um ídolo de rock, quando você está 
diante dele, é uma figura enorme. Ele pode ser capaz de explorar isso. Isso é 
algo que tem que ser vivenciado, mas tem que ser respeitado eticamente. A 
primeira dimensão da ética na psicanálise é justamente  essa dimensão do 
cuidado com o paciente fragilizado pela experiência transferencial.  
Em segundo lugar: o respeito pela diferença do paciente. Eu tenho que 
colocar as minhas crenças, os meus valores, de lado. Jung fala que, quando 
estou diante de uma pessoa eu tenho  que me esvaziar completamente de 
meus conhecimentos, de minhas crenças e ouvir o que ela tem pra me dizer. 
Então essa seria uma atitude ética dentro da análise. Eu não estou aqui pra 
dizer pra você o que é certo ou o que é errado. Eu nem sei para mim direito, 
tanto é que eu erro. As pessoas erram  sempre. Então eu vou respeitar essa 
diferença do paciente, e vou tentar ajudá-lo, a ver o que significa alguma coisa 
dentro do conjunto de valores dele. E isso também é uma questão ética.  
Vamos colocar um terceiro ponto, para o qual Jung vai chamar, também, 
atenção, dentro dessa questão ética: ele vai dizer que um dos maiores 
problemas de um analista, de um terapeuta, é se achar distante, fora daquela 
situação. E eu só posso estar aqui te ajudando porque eu reconheço que sou 
uma pessoa falha, que tenho feridas, que tenho limitações. Então, no momento 
em que eu reconheço isso — e Jung vai chamar isso de “arquétipo do curador 
ferido” — é que eu sou capaz de respeitar as fraquezas do outro, os limites do 
outro. Jung recomenda para todo analista ver também em si próprio aquele 
mesmo tema que está sendo discutido pelo paciente. Por exemplo: um 
paciente qualquer começa a narrar uma discussão que teve com a avó. Não é 
que eu vá dizer: “com a minha avó também está acontecendo isso”, mas no 
trabalho — depois de reflexão que vou  ter que fazer, logo depois do 
atendimento, ou durante a semana, em  algum momento — eu tenho que me 
deixar tocar por essas discussões, e me perguntar assim: “quem sou eu com minha avó? Como eu sou? Como eu era? Como eu sou com os idosos, como 
eu me vejo como idoso, como vou ficar depois, quando idoso?”. Então, o fato 
de o analista se deixar tocar pelos  temas trazidos na análise é uma outra 
dimensão ética para o encontro analítico.  
A terapia junguiana estabelece um diagnóstico do paciente? Ela trabalha 
com o conceito de cura ou pensa mais em uma transformação? 
A idéia de cura que a gente vai privilegiar é muito mais no sentido de 
fabricação de queijo, o queijo curado. O queijo curado é o que está no auge do 
seu sabor. Então, nós vamos ajudar a pessoa a se curar nesse sentido. Cada 
pessoa vem aqui com um motivo diferente, que eu não sei qual é. Eu estou 
aqui para ajudá-la, estou aqui para acompanhá-la em um processo específico. 
Há algumas pessoas que resolverão apenas alguns sintomas, que vão sair, 
que não terão mais motivação pra continuar. Depende muito da idade de cada 
um. A pessoa mais jovem, às vezes, precisa apenas tirar barreiras pra poder se 
lançar à vida, outras são pessoas que  têm um dinamismo mais profundo, aí 
entra um processo, nesse de cura,  no sentido do queijo, de desenvolver-se 
plenamente, de assumir o sujeito que se é. Então, cada pessoa tem um 
objetivo diferente que não  sou nem eu, nem ela própria que diz qual é. É o 
próprio psiquismo dela que vai te ditar pra onde que a gente vai.  
O diagnóstico é importante e há dois níveis de dele: o diagnóstico clínico 
— a pessoa tem um transtorno histérico, tem um transtorno obsessivo 
compulsivo, a pessoa é psicótica, etc. Mas tem um outro diagnóstico, que é 
mais importante que esse clínico: o diagnóstico psicológico. Vou te dar um 
exemplo: o de uma médica, que me procurou pra fazer análise. E, no primeiro 
encontro, ela falava sobre coisas, e entre essas coisas que ela falava ela via 
uma cena em que o cachorro dela  estava fazendo uma tomografia 
computadorizada, pois estava com câncer. Não o cachorro de verdade, o 
cachorro do sonho. Aí, como uma boa médica, no final, ela me perguntou qual 
era o diagnóstico. Eu disse: “Você  deve estar querendo saber se você tem 
histeria, ou neurose obsessiva compulsiva, mas isso não afeta nada, o mais 
importante é você saber que o seu cachorro está com câncer — esse é o seu 
diagnóstico. Então, esse é o seu  diagnóstico, esse é o diagnóstico 
psicológico...”. Qualquer coisa que signifique esse cachorro dela, isso está com 
câncer. Se o cachorro pode ser associado a relacionamentos que ela tem com 
pessoas, esses relacionamentos estão com câncer, se o cachorro representa o 
casamento dela, esse casamento está com câncer, ameaçado de morte, 
ameaçado por uma doença mortal. Jung vai diferenciar esse diagnóstico 
clínico, que é importante  para o terapeuta seguir certas orientações. Com o 
paciente psicótico deve-se ser mais cuidadoso quando se mexe com certos 
conteúdos, em comparação ao paciente não psicótico, mas o mais importante, 
mais específico ainda é o diagnóstico psicológico.  
Um outro exemplo que eu poderia te dar: um rapaz de dezessete anos que 
veio fazer análise comigo: nós fizemos algumas entrevistas e, entre elas, ele 
teve um sonho, em que alguém havia tentado levantar o assoalho de uma 
casa. E daquela abertura começaram a sair centenas de baratas, percevejos, 
lacraias, lagartixas, uma infinidade. Eu entendi – e nem trabalhei esse sonho com ele —, eu entendi que havia muita coisa ali embaixo. Será que ele não dá 
conta desse sonho? Ele sente um pavor com essa multidão de seres...  
Então, Jung chama atenção: cuidado quando aparece uma multidão de 
itens repetidos, porque, dependendo do contexto, eles podem indicar que há 
um potencial psicótico no paciente. Dessa forma, quando eu vou interpretar 
esse sonho, ou eu não vou poder tratar esse rapaz, ou eu vou ter que ser 
extremamente cuidadoso com ele. O objetivo da análise não vai ser aprofundar 
o inconsciente, e sim reforçar primeiro a capacidade dele de lidar com esse 
inconsciente. Mas ele próprio reagiu instintivamente ao sonho e me disse: 
“Não, por enquanto não, não vamos fazer análise agora”. 
Eu vou sempre adequar os objetivos da análise à pessoa. Minha análise 
não vai ser igual para todas as pessoas que eu atendo. No caso desse rapaz, 
nós decidimos não trabalhar o inconsciente, pelo menos por enquanto, até que 
a gente descubra por que está havendo esse desequilíbrio, pra haver tantos 
insetos. E então reforçar a capacidade dele de lidar com todos esses insetos, 
com todos esses animais.  
O que você acha que é a maior diferença e o que singulariza a terapia 
jungiana em relação às outras correntes?  
Acho que tem a postura do terapeuta:  em primeiro lugar, nós sentamos 
frente à frente com o paciente. Jung vai dizer que nós somos duas pessoas em 
um processo de auto-conhecimento. Eu já tendo feito análise, isso contribui 
muito para o processo de terapia: o  analista fazer análise é uma outra 
dimensão ética que Jung vai colocar. Foi ele quem criou, na época em que ele 
estava em colaboração com Freud,  a regra da obrigatoriedade de que o 
psicanalista deveria fazer análise. Então Freud concorda e coloca isso como 
uma regra fundamental para uma formação psicanalítica. Desse modo, fazendo 
análise (não tanto para me curar e sim para poder até abrir a minha capacidade 
de aceitar o sofrimento e ter compaixão pelo outro), a postura do terapeuta, do 
analista, torna-se uma postura mais aberta — “quem está aqui é o Carlos, 
estou aqui junto de você, vamos compartilhar uma porção coisas, eu vou te 
ajudar ao máximo”. 
 Essa postura é mais aberta, mais próxima (mas não ao ponto, por 
exemplo, de sairmos por aí, jantarmos juntos, ir a festas juntos). Mas eu sou 
uma pessoa que sofro do  inconsciente da mesma forma que você sofre. Eu 
nunca vou deixar de sofrer o mundo, o mundo está em sofrimento. A diferença 
entre uma pessoa neurótica e outra não-neurótica é que o primeiro, ao invés de 
enfrentar o sofrimento diretamente, substitui essa ação por outras coisas. 
Então não: “vamos enfrentar o mundo diretamente, vamos enfrentar as alegrias 
e as dores do mundo”. Então, essa é uma diferença, quanto ao posicionamento 
do analista jungiano, quando comparado a outras correntes.  
A segunda diferença é essa concepção do psiquismo: enquanto que a 
maioria, ou quase todas as linhas, quase todas as correntes da psicologia 
trabalham uma perspectiva muito pessoal  (as manifestações do inconsciente 
são parte do sujeito), Jung gosta de pensar esse inconsciente como objetivo. 
Então eu vou ter uma perspectiva  não pessoal, e sim uma perspectiva 
arquetípica no confronto com os problemas. Da mesma forma que eu tenho 
que tentar ser ético com as partes  do corpo (nós temos fígado, pâncreas, pulmão, coração, que não são meus), eu também tenho que ser ético, ou seja, 
ouvir o discurso do outro, com as estruturas elementares, que são os 
arquétipos. Eu não vou conceber esse psiquismo como sendo meu — não é 
meu, é do outro, e eu tenho que dar conta desse outro. Essa é uma outra 
postura que vai fazer uma diferença em relação a outras linhas.  
Outro ponto é que há uma inclinação a  você ouvir todas as linhas: você 
aceitar perspectivas de ouvir outras escolas também. Jung vai afirmar: “Nem a 
minha psicologia dá conta do psiquismo”. Então, há uma pré-disposição a você 
ouvir outras explicações; há explicações de Freud que são sensacionais, eu 
não vou jogar, fora, por causa de quê? Há explicações de Reich que são 
sensacionais, de Melanie Klein, da Gestalt, todas elas. Por que eu vou jogá-las 
fora? Acho que estes são três aspectos que marcariam uma diferença jungiana 
em relação às outras escolas.  

E o que você acha que reúne todas essas linhas? 
Durante a Segunda Guerra Mundial Jung tentou chamar vários 
representantes, de várias teorias, para tentar estabelecer uma espécie de 
protocolo mínimo para as psicoterapias. Jung é suíço, e suíço tem mania de 
fazer esses acordos, mas ninguém quis fazer isso, ele acabou não sendo bem 
sucedido...  
Eu acho que respeitar a diferença do outro seria um ponto em comum 
entre todas as linhas. A questão da singularidade é fundamental na psicologia 
jungiana. Cada pessoa é única, ela tem  uma escolha, ela tem um objetivo 
único, que eu tenho que ajuda-la a assumir. Muitas vezes essa singularidade 
está abafada por várias questões, então, eu tenho que ajudar a pessoa a 
compreender isso e sem esquecer a dimensão social: Jung vai falar que um 
dos objetivos da análise (isso para uma análise completa), é justamente fazer 
com que a pessoa tenha noção do seu papel social. Nós estamos inseridos 
numa sociedade, é necessário assumir a sua cidadania. Ele vai chamar isso de 
educação — no sentido grego da palavra, da idéia —, a educação para a 
cidadania. Essa é uma dimensão importante: eu tenho que dar uma resposta 
singular, minha, a isso que eu recebo de todo mundo. É um processo de 
negociação. E esse processo de desenvolvimento, chamado de ??ação É um 
processo inesgotável, eu sempre vou ter coisas para ouvir (externas, internas). 
Eu vou ajudar a pessoa a ser capaz de ser hospitaleira a esse outro que 
aparece, tanto de fora quanto o outro de dentro. 

Como é a terapia jungiana no Brasil? Ela é muito difundida? 
Ela é bastante difundida. Nós temos aqui vários grupos, nós temos grupos 
oficiais – a SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica) a Associação 
Jungiana no Brasil. Eu criei um grupo não oficial, que é a Rubedo. Nós temos 
um site na internet [www.rubedo.psc.br], com mais de duzentos artigos. Nós 
temos, a Casa das Palmeiras, que a Dra. Nise da Silveira fundou, com uma 
orientação jungiana. Então, a psicologia jungiana, no Brasil, é bastante 
difundida. Nas universidades é uma coisa complicada, por causa de uma 
postura tirânica da psicanálise. A universidade não é um espaço democrático. 

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Existe alma gêmea?

Definitivamente, o conceito "alma gêmea", nada mais é que uma expressão usada na linguagem comum, mas que pouco enriquece as trocas humanas no relacionamento afetivo, ao contrário, é capaz de fazer os indivíduos se sentirem perdidos, alienados e incapazes de se manterem em uma relação a dois. Aquele que acaba sempre procurando sua "metade" esquece de perceber que ele é inteiro.

Não existe uma metade de nós mesmos, somos seres inteiros, globais. A idéia da alma gêmea surgiu na mitologia grega com a história dos andróginos (ver post Homossexualidade: o mito renegado). O ensinamento é justo e claro: quando lá em tantas e tantos, exista um ser que possuía quatro braços e quatro pernas. Em busca da divindade, esse ser pede a Deus que os separe; de modo que os dividissem em duas metades que deveriam ser procurados eternamente. 

O mito favorece então o ensejo a que hoje ficamos procurando a nossa alma gêmea. Incrível como os mitos arquetípicos exercem influência inquestionável em nossas vidas, não é? O ser que fica procurando a todo o momento a sua outra metade, me parece mais uma alma gemida do que qualquer outra força inteligente. Fica a mercê do vazio interno, sentindo-se, portanto, incompleto. Ao invés de ter o outro como cúmplice da felicidade e crescimento, o mito reporta a idéia, de que o outro deve preencher e ter a responsabilidade da completude daquele que procura, fazendo o feliz.

Essa idéia é tão comum e pertinente que encontramos pais dizendo aos filhos que estes encontrarão um homem ou uma mulher que os farão felizes, como se fosse possível o outro fazê-lo (a) feliz.

Alma gêmea é compreensível no mito, na linguagem lírica, poética, metafórica, nos contos em que os príncipes pegam seus cavalos alados, enfrentam dragões e espinhos no resgate da princesa. Nesse caso, vemos as mulheres imobilizadas, adormecidas diante do amor, e os homens onerados, quando muitas vezes não dão conta nem deles mesmo. 

Haja hiper-homens e hiper-mulheres com tamanhas responsabilidades para fazer o outro feliz. Pense nisso!


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mudando de assunto....

Eu sempre gostei muito de qualquer forma de expressão e manifestação artística, sobretudo, a dança....
De olho em alguns blogs, descobri essa banda, no mínimo, muito revolucionária (o que eu ADORO tb!)
Além de ótimos dançarinos, os homens usam salto alto!!!

O grupo chama Kazaki, são da Ucrânia. Eles também abriram o desfile de inverno 2012 da Anouki Bicholla, uma grife do mesmo país.

Vejam o clipe original da banda:




Isso me fez lembrar, a companhia de ballet também conhecida pelos ótimos dançarinOS: Les Ballets Trockadero de Monte Carlo. Formado por profissionais do sexo masculino, eles conservam o repertório da dança clássica ao estilo russo, mas com um sopro de comédia, sobretudo, nos "exageros", erros e incongruências do movimento! Tive a oportunidade de vê-los no Brasil! Vale a  pena! Confiram:







Acredito que a arte é o canal mais aberto para novas e infinitas possibilidades, inclusive, para novas possibilidades de vir-a-ser no mundo! E é bem mais divertido ver tudo isso com olhares desprovidos de preconceitos!!! Ah.....lembrando que Jung foi sempre envolvido com a arte também!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Afinal, qual o simbolismo da Mandala?

Jung prestou serviço militar trabalhando como médico do exército suíço durante a primeira guerra mundial.  Entre 1918 e 1919, Jung desenhava uma mandala sem seu caderno para representar seu estado emocional e dessa forma, foi observando a transformação psíquica que nele operava ao realizar esses desenhos.

Mandala significa formação-transformação. “É a natureza microcósmica da psique”.

O mandala em sânscrito significa círculo mágico. É representada por imagens dispostas ao redor de um centro.

O círculo mágico é usado para proteger uma pessoa contra as influências externas. Elas são usadas no budismo tibetano como forma de meditação e contemplação.

No centro delas, costumam - se aparecer símbolos (estrela, sol, lua, divindade, etc.). O centro é a unidade.

Von Franz e Jung têm muito a revelar sobre mandala, no livro- Seu mito em nossa época, 1992.

Por que os quatro pontos?

A quaternidade significa uma composição envolvendo quatro objetos ou pessoas. É um indicador de totalidade ou unidade global. São levadas em considerações as quatro divisões do espaço cósmico (norte, sul, leste, oeste, em cima, embaixo, à esquerda, à direita.)